quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A Marca de James Dean

Um dos maiores ícones jovens de Hollywood, ao lado de Marilyn Monroe, definitivamente é James Dean. Sua imagem como o eterno rebelde é a personificação de uma geração de jovens dos anos dourados do cinema e da história americana. Mas, diferente do teor conspiratório que carrega a imagem de sua contraparte feminina, James Dean esconde uma essência, uma aura mística que o consagrou como símbolo cultural dos EUA e do mundo. Neste artigo, vamos desconstruir James Dean, explorar detalhes específicos de sua vida e carreira, analisando símbolos e temas que melhor se encaixam no contexto semiótico deste blog e, com base no sincromisticismo, vamos tentar explicar como sua importância é sentida na mídia atualmente.

"Para mim, o único sucesso, a única grandeza de um homem, é a imortalidade. Ter seu trabalho lembrado na história, deixar algo neste mundo que permanecerá por séculos. Essa é a grandeza..."

Mais do que apenas um ator, James Dean tornou-se ele mesmo um símbolo juvenil que marcou uma fase turbulenta da América pós-Segunda Guerra Mundial. Adolescentes de sua geração viam nele as mesmas frustrações, as mesmas necessidades de amor e compreensão. Sua breve passagem por Hollywood e pela vida refletiu na sociedade americana um novo modelo de juventude: imitavam seus trejeitos, repetiam suas falas, vestiam roupas inspiradas na imagem do ator e andavam na mesma velocidade de seus veículos.

Sua imagem icônica foi construída a partir de seus filmes que apresentam intrincados significados, sejam eles questões psicológicas ou até mesmo envolvendo símbolos arquetipais. Como, por exemplo, o filme "Vidas Amargas" (East of Eden, 1954), baseado num livro de John Steinbeck cuja história é uma recontagem simbólica do clássico conto bíblico dos irmãos Caim e Abel.

Para compreender o significado mais profundo do filme, e como isso influenciou a imagem de James Dean, precisamos conhecer a história original e seu significado subjacente:

CAIM, A ESTRELA DE HOLLYWOOD

"Caim e Abel", pintura de Frans Floris. A alegoria bíblica dos primeiros filhos de Adão retrata uma grande quantidade de elementos interpretativos como: o primeiro assassinato da história, segundo a bíblia, ou os primeiros homens gerados através da reprodução humana, etc. No conto, Caim e Abel fazem uma oferta à Deus: Caim apresentou "frutas da terra" e Abel ofereceu "primícias do seu rebanho". Deus recusa e "não respeita" a oferta de Caim, mas aceita a de Abel, porque "era do seu agrado". Caim, tomado pelo ciúme e pela inveja, assassina seu irmão. Quando perguntado por Deus sobre o paradeiro do seu irmão, Caim responde com arrogância, desafiando a autoridade de Deus, que o pune colocando sobre ele "uma marca". Após ter matado Abel, Caim teria partido para a "terra da Fuga (Nod ou Node), ao leste do Éden".

O tema subjetivo de Caim e Abel retrata questões vividas pelo ser humano desde os primórdios da civilização: a rivalidade fraterna e a batalha entre a concepção do bem contra o mal. No filme Vidas Amargas, James Dean interpreta Caleb "Cal" Trask (Cal possui a letra inicial "C" de Cain, ou Caim em inglês), um jovem desobediente que procura saber a verdade sobre a morte de sua mãe e acaba entrando em conflito com o pai, Adam (Adão), e o irmão Aron (com a letra inicial "A" de Abel). Em uma determinada cena, Cal faz uma oferta a seu pai porém é recusada, assim como na alegoria bíblica.

Ao se utilizar de um conto clássico como referência subjetiva para a construção da narrativa do livro, o filme acertou diretamente a mente coletiva da época. Os motivos para isso aparecem claramente nesta biografia chamada James Dean: The Mutant King: A Biography de David Dalton:

"[Elia Kazan, o diretor do filme] sempre acreditou que os filmes 'mudam a vida humana' e através de filmes como 'On The Waterfront' e 'Vidas Amargas', ele tentou mostrar como as discordantes, os elementos perturbados de uma sociedade Americana, poderiam afetar amplamente uma mudança nas atitudes, no comportamento e na consciência. [...] Kazan fez de Jimmy uma arma social para transmitir as próprias visões do diretor." — James Dean: The Mutant King: A Biography, David Dalton, 2001, p. 161 (tradução nossa)

Ao ser retratado nos temas míticos do conto de Caim e Abel, James Dean, incorporando perfeitamente seu papel de Caim, tornou o filme importante para a formação cultural da sociedade conservadora da época, assim como o filme foi crucial para a construção da sua icônica imagem de rebelde.

Se James Dean foi conscientemente utilizado como uma "arma social" em Vidas Amargas, então sob o ponto de vista sociocultural, Cal Trask/James Dean representa toda a geração adolescente que se volta contra um sistema de governo patriarcal (simbolizado pelo pai de Cal no filme), enfrentando conflitos internos em busca de aceitação, característica latente da juventude americana daquela época.

Cena de Vidas Amargas em que Cal enfrenta seu irmão Aron. Sendo a história uma reinterpretação do conto de Caim & Abel, algumas modificações foram feitas para que a visão simbólica do diretor pudesse ser inserida.  No filme, Cal, ao contrário de Caim, não mata seu irmão. Em uma reviravolta na história, Cal ganha o amor da donzela e o perdão de seu pai, enquanto seu irmão, ao descobrir a verdade sobre sua mãe, perde o juízo e a razão, alistando-se no exército e partindo para uma guerra. Uma inversão de valores acontece no enredo do filme, transformando o Caim simbólico em herói.

Em um artigo publicado numa revista teosófica, Caim e Abel são descritos por John Algeo como sendo representativos de forças opostas inerentes ao ser humano: a natureza inferior (humana/material) e a natureza superior (espiritual/Crística), respectivamente (The Quest Magazine, Janeiro de 1997).  

Carl Jung em sua Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade (1994), aponta as similaridades entre Caim-Abel e Jesus-Satanás, este último sob a perspectiva gnóstica de que também é filho de Deus. Jung diz: "Caim é luciferino, por causa de seu caráter rebelde e progressista, ao passo que Abel é o pastor piedoso" (Jung, 1994, p. 61), sugerindo que o profundo significado do conto de Caim e Abel, assim como Jesus e Satanás (representações universais do bem contra o mal), se esconde sob uma camada extremamente arquetípica.

Então se Caim representa essa natureza humana instintiva, logo, a concepção do personagem Cal também se fundamenta no mesmo princípio. O próprio James Dean, aparentemente muito consciente desse aspecto, afirmou em uma entrevista que:


"Cal é um herói que é humanamente demoníaco. O filme é um estudo das dualidades — que é necessária para se alcançar a bondade através de um senso satânico ao invés do puritano". — James Dean: The Mutant King: A Biography, David Dalton, 2001, p. 183 (tradução nossa)

Para reforçar o caráter arquetípico de Caim e sua relação com o mito americano James Dean, podemos citar W. Brett Riley, que sugere em seu artigo The American Cain: An Alternative National Archetype (2008) que Caim é a base de um arquétipo nacional, pois ele incorpora os ideais americanos, e que esse arquétipo se manifesta diversas vezes na literatura estadunidense. Riley analisa alguns livros com esse tema, e um deles é justamente East of Eden de John Steinbeck, livro que deu origem ao filme. Diz Riley:


"Caleb assume seu papel de Caim nacional através de sua busca por individualidade e como resultado da escolha que ele enfrenta sobre quem ele vai se tornar. O Sonho Americano é talvez mais caracterizado pela liberdade [...] o ideal nacional implica que qualquer coisa é permitida não importa o ponto de partida de uma pessoa, sua história, ou recursos. No Caim dos EUA, liberdade, que é o mais fundamental dos elementos, serve como forma de oportunidade e promessa, mas, em última análise, leva a confusão, raiva, e a compreensão de que o passado pode frustrar futuros empreendimentos." — The American Cain: An Alternative National Archetype, W. Brett Riley, 2008, p. 262 (tradução nossa)
Se tanto Cal quanto Caim, com sua complexa característica autossuficiente e luciferina, podem ser considerados um arquétipo nacional americano, James Dean, ao representar Cal em Vidas Amargas, encaixa-se mais do que perfeitamente neste rótulo. Essa hipótese pode ser reforçada através do simbolismo encontrado no filme "Juventude Transviada" (Rebel Without a Cause, 1955). Vamos analisar alguns aspectos do filme e tentar mostrar como isso afeta diretamente na imagem de James Dean.

Um dos muitos elementos simbólicos do filme Juventude Transviada é esta jaqueta que o personagem Jim Stark utiliza por quase todo o longa. A cor vermelha da jaqueta representa a ousadia, a valentia e, obviamente, a rebelião. De acordo com o diretor do filme: "Quando você vê Jimmy pela primeira vez em sua jaqueta vermelha sobre seu Mercedes preto, não é só uma pose. É um aviso. Um sinal". Esotericamente falando, a cor vermelha representa "a condição em que a consciência é escravizada pelos desejos e paixões da natureza inferior" (The Secret Teachings of All Ages, Manly P. Hall, pág. 144), encaixando-se perfeitamente com o simbolismo de Caim, que foi associado a James Dean ao interpretar o personagem Cal em Vidas Amargas. Note também o contraste entre as cores vermelho (na jaqueta), branco (na camisa) e azul (na calça jeans) criando uma imagem subjetiva das cores da bandeira dos EUA.

De acordo com Chris Woods em Finding the Father: A Psychoanalytic Study of Rebel Without a Cause (2000), todos os personagens principais do filme buscam uma figura paterna ideal durante o longa. Plato (o nome que em inglês significa Platão, sugere uma espécie de atração platônica pelo personagem de James Dean), personagem interpretado por Sal Mineo, e Judy, interpretada por Natalie Wood, buscam em Jim Stark a projeção de uma figura paterna.

Esse aspecto psicológico é importante pois é um fator necessário para a transição de fase não apenas dos personagens do filme, mas também de seus atores, como foi apontado por Woods (2000). No final do filme, percebemos essa transformação simbólica dos personagens: a transição para a vida adulta através da morte de Plato. Como um último ato de paternalismo, James Dean cobre o corpo morto de Plato com sua jaqueta vermelha — o vermelho aqui simbolizando o sacrifício necessário para se alcançar o amadurecimento. Essa jornada psicológica simbólica que é representada no filme, aliada ao caráter libertário da juventude que também é mostrado, ganha fácil associação do espectador adolescente com o filme e, consequentemente, com o seu ator principal, partilhando com esse público as mesmas experiências emocionais — o que explicaria porque o filme e o ator se tornaram tão cultuados.

James Dean, ao dar um rosto ao novo modelo de jovem americano, teve sua imagem cristalizada no imaginário popular devido à sua inesperada morte. Esse interesse da indústria de moldar uma nova espécie de jovem em que os adolescentes da época pudessem se identificar, levou essa indústria a produzir alguns detalhes que pudessem ser inseridos na composição da imagem do ator. Para isso, a importância do ator, e até mesmo a sua morte, foram anunciadas previamente de uma forma astronômica e sincronística.

James Dean, a estrela de Hollywood (note a estrela dourada e o sinal de Hollywood ao fundo). Esse busto de bronze um objeto que antigamente era feito em honra a deuses, imperadores ou pessoas importantes , é uma homenagem ao ator e está localizado no Observatório Griffith, em Los Angeles, onde cenas importantes de Juventude Transviada foram gravadas.

Há uma cena específica em Juventude Transviada que, de um modo impressionante, resume toda a jornada simbólica tanto do filme quanto a própria vida e carreira de James Dean. A cena, gravada dentro do Observatório Griffith, mostra todos os personagens adolescentes principais em um planetário, assistindo uma palestra sobre o funcionamento do universo e o fim do planeta Terra. O palestrante diz:


"Dias antes do fim da nossa Terra, a pessoas irão olhar para o céu noturno e notar uma estrela cada vez mais brilhante e cada vez mais próxima."

Após essas palavras, entra Jim e sussurra para o professor que está checando os nomes na entrada: "Stark, Jim Stark." (Lembre-se que "estrela" em inglês se diz "star"). Todos se viram para Jim, o palestrante hesita, dando uma sugestão da importância do personagem - e do ator. Quando Jim se senta, o palestrante continua:

"Enquanto essa estrela se aproxima de nós, o clima irá mudar."

Enquanto isso, Jim nos dá mais outra sugestão sobre sua importância no universo astronômico de Hollywood: "Uma vez que você já esteve lá em cima, você realmente sabe que já esteve em algum lugar." Enquanto o palestrante continua, Buzz (personagem antagonista) se relaciona com as estrelas da sua própria maneira, imitando um caranguejo. Quando o palestrante diz "...Taurus, o touro...", Jim imita o som de um touro. O palestrante então diz que:

"A Terra será destruída assim como começamos, em uma explosão de fogo e gás... Em toda a complexidade do nosso universo e das galáxias distantes, a terra não fará falta. Através dos confins infinitos do espaço, os problemas do homem parecem ingênuostriviais de fato, e o homem, existindo sozinho, parece ele mesmo um episódio de pouca importância."

A teoria do Sincromisticismo de Jake Kotze propõe que há uma relação significativa de eventos e símbolos manifestados através de coincidências entre o mundano e cósmico. O assunto da excursão pelo planetário e as falas do palestrante também acrescentam simbolismo ao contexto do filme: a ameaça da extinção, o iminente fim da vida no planeta, o viver no imediatismo contra a insignificância da existência humana no universo, são temas que permearam não apenas a vida e carreira de James Dean mas também todo o seu legado. James Dean ensinou à uma geração inteira que a vida é curta demais e que se deve aproveitá-la ao máximo afinal o fim é iminente. James Dean morreu antes mesmo de Juventude Transviada ser lançado.

"Eu quero viver tão intensamente quanto eu posso", dizia Taurus, o touro. Aliás, uma das paixões de James Dean realmente era a Tourada.

Em 30 de Setembro de 1955, um acidente de carro horrível ceifou sua vida no auge de sua carreira, deixando milhares de fãs órfãos. E assim como sua carreira foi cercada por elementos sincromísticos, sua morte também seguiu esse padrão. Exatamente como determinados artistas (alguns mencionados no artigo "O Sacrifício Ritual Oculto de Ryan Dunn"), James Dean teve sua morte prematura cercada por alguns estranhos e coincidentes eventos:

 Nessa mórbida série de fotografias tiradas por Dennis Stock em 1955, James Dean posa dentro de um caixão em uma funerária de Fairmount, cidade onde o ator foi criado pelos tios. Essa foi a última viagem de Dean para Fairmount antes de falecer tragicamente. Sete meses mais tarde, Dean voltaria para a mesma funerária dentro de um caixão porém morto. Segundo o fotógrafo Dennis Stock, as fotos que foram tiradas em Fairmount fazem parte do conceito de uma "biografia visual". Stock, que faleceu em 2010, não explicou qual a relação da história da vida de James Dean com a funerária ou com os caixões. (Imagem: © Dennis Stock/Magnum Photos )
Na mesma sessão de fotos, James Dean aparece visitando o túmulo de seu tataravô chamado Cal Dean. Interessante lembrar que o acidente que causou a morte de James Dean aconteceu em Salinas, o exato local onde se passa a história de Vidas Amargas. Estaria o universo nos dizendo antecipadamente, nessa imagem, que Cal Trask/James Dean conheceria a morte em breve? (Imagem: © Dennis Stock/Magnum Photos ) 
 
Esse vídeo é um aviso de utilidade pública, gravado para o Conselho Nacional de Segurança durante as filmagens de Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956), terceiro e último filme de James Dean. No vídeo, James Dean conversa com o ator Gig Young sobre como dirigir rápido nas estradas pode ser mais perigoso do que competir em uma corrida profissional. No final, ao invés de dizer a popular frase "A vida que você estará salvando pode ser a sua", James Dean diz "a vida que você estará salvando pode ser a minha". Ironicamente, James Dean morreria em um acidente de estrada a apenas algumas semanas após o vídeo.    

Além dessas sinistras coincidências imagéticas, aparentemente o ator Alec Guinness havia previsto o acidente de carro que matou James Dean, exatamente uma semana antes do evento. Em sua autobiografia, Guinness relata que ao encontrar-se com Dean em um restaurante, o ator teria lhe mostrado seu recém-adquirido Porsche Spyder. Guinness conta que ao olhar o carro, ele teria sentido que o carro era "sinistro" e teria dito a Dean o seguinte: "Se você entrar nesse carro, você estará morto em uma semana" (Alec Guinness, Blessings in Disguise, 1985, p. 34-35). Seriam essas coincidências, mais uma expressão do sincromisticismo?
"Se um homem pode construir uma ponte entre a vida e a morte, se ele pode viver depois que estiver morto, então talvez ele tenha sido um grande homem.

Premeditada ou não, a morte de James Dean aconteceu. E talvez, devido à sua pouca idade e a sua rápida passagem por Hollywood, ela tenha dado ao ator o status legendário que se mantém até hoje. Mais que isso, sua morte foi um impacto direto na cultura adolescente mundial. Em 1956, um ano após a morte de Dean, a revista LIFE publicou uma matéria com o título "Delírio Por Uma Estrela Morta" onde é relatado que milhares de cartas de fãs eram enviadas aos estúdios da Warner Bros. com pedidos de pedaços de roupas, pedaços do cabelo, objetos que Dean havia utilizado ou tocado e algumas cartas eram escritas como se fossem diretamente para James Dean. Relatos de fãs que não conseguiam mais comer desde a morte do ator. Teorias de que o ator não havia morrido começaram a surgir, culminando numa espécie de culto mórbido. Uma das teorias mais populares era a de que o acidente de carro não havia causado sua morte, mas lhe transfigurado o rosto e que por causa disso o ator estaria escondido em algum lugar. Efígies realistas do rosto do ator começaram a ser fabricadas em massa. Além disso, termos como "reencarnação", "imortalidade" e "ressurreição" eram mencionados em centenas dessas cartas, um resultado da forma como propagavam sua imagem através da mídia. 

David Dalton em seu livro James Dean: The Mutant King: A Biography escreveu um capítulo inteiro sobre esse "culto" à imagem de James Dean. Intitulado Osiris Rising (Ascenção de Osíris), o capítulo compara a adoração ao ator à antiga adoração ao deus egípcio dos mortos e da regeneração, Osíris. Dalton afirma que dentro de um ano após sua morte, o culto a James Dean tinha alcançado a natureza de um fenômeno religioso. Periódicos ocultistas e estudos acadêmicos da época, começaram a compará-lo com deuses moribundos como Jesus Cristo, Adonis, Tammuz, Dionísio e Osíris, devido a característica do "renascimento". E assim como Osíris (e também Caim), James Dean também era associado a Lúcifer (em sua concepção gnóstica), por serem ambos "deuses da juventude, da rebelião, rei dos mortos e deus da luz."
 
"Sonhe como se você fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer hoje."

As influências desse culto à imagem da estrela morta podem ser percebidas atualmente na cultura mundial em áreas como a música, a moda, o comportamento social e principalmente nos cinemas. James Dean é tido como "o primeiro rock star" devido sua "atitude rebelde" (o que alguns biógrafos alegam ser invenção da mídia) que influenciou diretamente no comportamento dos roqueiros das gerações que viriam a seguir. Por exemplo, no mesmo ano que James Dean morreu, Elvis Presley estreou como um dos maiores cantores da América. Sua característica nada convencional de dançar chocou a sociedade conservadora da época, levando a indústria a compará-lo como "o próximo James Dean". Dean era o ator favorito de Elvis.
 
"James Dean era um gênio", diz Elvis Presley neste vídeo quando comparado com o ator.

Se James Dean foi transformado em mito ou símbolo arquétipo após a sua morte, então da mesma forma que outros mitos/heróis/arquétipos, sua imagem é constantemente evocada quando a indústria cultural deseja construir novos modelos. Através da associação entre a imagem de Dean e o aspirante a celebridade, espera-se que a adoração que a indústria e o público criaram pela imagem da juventude eternizada de James Dean seja transferida para o novo objeto de culto midiático. Como visto no exemplo de Elvis Presley, não apenas a imagem de Dean é utilizada como comparativo, mas também algumas de suas atitudes ou algumas das características que foram forjadas por Hollywood na construção da figura rebelde de James Dean. 

Um dos exemplos mais óbvios que pode ser visto atualmente, é o cantor canadense Justin Bieber:
 
O novo álbum de Justin Bieber, intitulado "Believe", lançado após o cantor atingir a maioridade, apresenta aos público uma nova fase do ídolo teen onde ele "enfrenta uma transição para a idade adulta". Com essa nova fase, Justin adotou também um novo visual que, conforme entrevista cedida à revista Capricho, foi inspirado em James Dean e Elvis Presley. A capa do novo CD foi analisada pelo site da MTV, em uma matéria que diz: "Nós definitivamente achamos que Justin Bieber está canalizando seu James Dean interior na capa do seu mais recente álbum, 'Believe'. Encarando-nos com uma pose ardente por sobre o ombro, Bieber mostra um momento no tempo entre a eterna juventude e inocência e a rebeldia jovem." (imagem comparativa retirada do site mtv.tv)
Seu primeiro single do álbum Believe foi "Boyfriend". O videoclipe mostra Justin em seu carro com uma jaqueta e tendo um momento de diversão junto de outros jovens. Algumas cenas dão a impressão de que Bieber está disputando uma corrida de carros. Todo esse conjunto lembra bastante o filme Juventude Transviada. Temos a confirmação da teoria de que Justin está "canalizando seu James Dean interior" nesse clipe quando o próprio diretor afirma no vídeo dos bastidores que: "Ele tem uma espécie de personalidade James Dean."
Esta é uma das fotos que foram tiradas para a produção do single de Boyfriend. Note as similaridades.
A imagem acima é uma das fotos que foram tiradas em um ocorrido de 27 de Maio de 2012, onde Justin Bieber aparentemente envolveu-se em uma briga com um paparazzo que havia chegado perto demais de Justin e sua namorada Selena Gomez. O caso ganhou repercussão devido a surpresa do público pela atitude de Justin, que até então era considerado calmo.
Enquanto ficava nervoso e surpreendia fãs por sua reação contra o paparazzo, Justin Bieber vestia uma camisa com uma estampa do símbolo da juventude e da rebeldia. Assim, o acontecimento envolvendo o paparazzo ganha um significado totalmente novo quando olhamos para esses detalhes escondidos pela sincronicidade: a associação imagética do mito de James Dean, o adolescente rebelde, com o novo Justin Bieber, agora marcado num ponto mítico de interseção entre a vida adulta e a infância.
A imagem acima é uma captura de um vídeo em que Justin Bieber recebe um prêmio do canal VEVO no Youtube, por ter o vídeo mais acessado da história do Youtube. Justin Bieber agora é um James Dean da era tecnológica com certificado ;)
Nesta foto de Abril de 2011, Bieber comparece à festa dos estilistas da marca de roupas Dolce & Gabbana vestindo um capuz com a estampa de James Dean. Sobre transformar Justin em estampa de roupas, os estilistas comentaram: "Cada época e cada geração tem seus ícones." Esse evento sincrônico ocorreu um ano antes do lançamento do novo álbum de Bieber, sugerindo que sua imagem estava sendo moldada há bastante tempo.
Justin Bieber está constantemente sendo associado à imagem do heroi juvenil de Hollywood e, assim como James Dean teve sua imagem associada a outros mitos e arquétipos da humanidade, a indústria sempre construirá novos ídolos a partir de símbolos que permeiam o inconsciente coletivo. Vamos olhar para outros exemplos do uso de James Dean como um símbolo, embora alguns sejam mais subjetivos do que outros, mais explícitos:
Imagem do site twifans.com, comparando os dois atores.
Outra celebridade que somos forçados a acreditar que será o novo James Dean, é Robert Pattinson. O ator já declarou que se inspirou no eterno rebelde sem causa para o seu papel no filme no Crepúsculo. Artigos de revistas fazem comparações entre os dois e as suas sessões de fotos sempre parecem ser inspiradas nas sessões de fotos de Dean.
O ator James Franco foi além e literalmente interpretou James Dean em um filme de 2001 lançado exclusivamente para a televisão chamado James Dean. A foto acima é a capa da revista Vogue Internacional onde é possível ler "James Franco, O Novo James Dean."
É até difícil saber qual dos James está nessa foto! (Achei que seria interessante comentar que James Franco interpretará O Mágico de Oz na nova prequência produzida pela Disney, levando em consideração este artigo  que escrevi anteriormente)
James Dean na sua famosa sessão de fotos do suéter.
Daniel Radcliffe é mais outro aspirante a James Dean, levando em consideração que também é astro de uma saga adolescente assim como Robert Pattinson. Em Março de 2012, ele fez um editorial para a revista Bullet intitulado "Dean is back", novamente o título sugerindo uma evocação forçada da imagem do rebelde sem causa. Nas fotos, também são feitas referências a Elvis Presley e a Marlon Brando.
Ou talvez seja efeito de uma poção polissuco!!!
O ídolo adolescente forjado pela Disney, Zac Efron, também não podia ficar fora dessa e em 2010 na revista Wonderland ele canalizou seu James Dean interior totalmente.

CONCLUSÃO

Neste artigo, vimos que James Dean tornou-se o maior ícone adolescente de Hollywood por causa de sua morte prematura, sua personalidade marcante e sua atuação arrebatadora. Sua vida, sua carreira e seu legado estão sob a proteção de um mistério que intriga fãs, biógrafos, e estudiosos do mundo inteiro, todos desejando desvendar o enigma que é a figura de James Dean, e coincidências estranhas cujas explicações parecem não existir. Além disso, a mídia e a indústria exploraram fatos de sua vida para construir a imagem de um eterno rebelde sem causa, porém confundindo a ficção com realidade. 

Ao ser associado com símbolos e temas inerentes à natureza humana, a figura de James Dean transformou-se num ícone arquetípico que permanece mesmo décadas depois de sua morte. Com a necessidade de se criar novos ídolos ou objetos de culto, a indústria continuará a associar suas celebridades a mitos, heróis, deuses e arquétipos, como forma de ganhar domínio sobre o inconsciente do público consumidor. James Dean é o mais recente herói da humanidade e está sendo utilizado de maneira similar porém, devido o contexto contemporâneo, com propósitos consumistas e, em última instância, ideológicos. 

A indústria e a mídia estão impregnadas pelos efeitos causados pela simples existência de James Dean, e seu legado, sua marca, assim como os descendentes de Caim, permanecerá durante muito tempo na cultura mundial.
 
"Morre jovem o que os deuses amam" (Fernando Pessoa)
_________________________________________________________________________________________________________  Referências e Fontes de pesquisa:

3 comentários:

  1. Bem interessante, amigo.
    Uma coisa que acho que seria uma boa curiosidade é que no novo filme do "Mágico de Oz", todos os atores principais são judeus: James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz e Zach Braff.
    A indústria de Hollywood sempre privilegiou atores judeus, porque eles tem um "plano" obscuro para Israel. Tem a ver com a vinda do messias dos judeus. Eles sempre colocam os judeus em patamares altos e isso é uma coisa a se pensar muito.

    Aqui no Brasil não é diferente. A mídia é formada por judeus famosos, como Luciano Huck, Silvio Santos, Boris Casoy e os comediantes recentes Rafinha Bastos, Fabio Rabin, Ben Ludmer, sempre ganham mais espaço mesmo que haja outros com talento igual ou superior. É uma esquema gigantesco em que a Maçonaria sempre privilegia os judeus, para completar seu plano final. No cinema sempre colocam atores judeus como os personagens "engraçados" nos filmes e no caso do "Mágico de Oz", James Franco ser o ator principal é muito significativo para quem estuda a simbologia do cinema.

    Não tenho nada contra judeus ou qualquer outro povo ou religião. O que digo é que a mídia exalta o judaísmo porque há um plano sinistro em torno disso tudo.

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  2. Meu amigo, agradeço-te imensamente, pois tudo isto venho observando desde 1994...e
    sempre apontei isto também sobre James Dean. Excelente trabalho ! Parabéns ! abraços.

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  3. studo o 'objeto' james dean, há 29 anos. Quando vi a imagem dele a primeira vez, tinha 17 anos e foi um choque brutal, um misto de fascínio, atração e curiosidade indescritível. este artigo é um dos mais interessantes que ja li a respeito. Muita gente se ressente dos EUA por isto e aquilo, mas uma coisa é certa, é uma sociedade que reúne todos os símbolos das civilizações passadas como que numa tentativa óbvia da vida nos alertar e que os EUA são o último aviso, não que o país em si seja a 'salvação', ele são 'a mensagem', e o cinema que transportou todos os semideuses direto para o século XX não deixa dúvdia. Rebel Withou a CAuse exemplifica muito bem isto magnificamente bem conduzido pelo artigo em questão. Parabéns.

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